domingo, 19 de outubro de 2008

As árvores-lenços

Árvore-lenço é uma tradução livre do inglês "handkerchief tree", nome que se aplica a algumas das mais belas árvores floríferas do mundo tropical.

Pertencem todas à extensa família das Fabáceas, também conhecida como das Leguminosas.

A denominação se deve ao fenômeno das folhas jovens desenvolverem-se em "pencas" (ver fotos). Elas são inicialmente claras e flácidas, assemelhando-se a lenços úmidos, suspensos pelo centro e dependurados nas pontas dos galhos.

Essas brotações apresentam várias padronagens em tons pastéis, podendo ser de coloração uniforme (bege, rósea ou verde-clara) ou marmorizada como Brownea ariza, a espécie apresentada nas fotos que enfeitam estas linhas.

Acompanhar o surgimento e desenvolvimento do "lenço" é um espetáculo à parte. A princípio a planta emite uma brotação do tamanho e forma de um lápis, com os folíolos completamente enrolados. Em seguida, os últimos subitamente se expandem em largura e comprimento, tomando a forma mostrada nas imagens acima e abaixo. Em mais um ou dois dias enrijecem-se, formando uma folha composta, verde e brilhante, que assume uma posição quase horizontal.

Na Região Neotropical, o grupo é representado pelos gêneros Brownea e Browneopsis, conhecidos por vários nomes vulgares, como rosa-da-montanha, sol-da-mata, etc. Já no Sudeste Asiático, listam-se os gêneros Saraca (de múltiplas flores grandes, nos tons vermelho e alaranjado), Amherstia ("rainha-das-árvores") e o quase desconhecido Maniltoa (de belíssimas inflorescências alvas).

Em nosso site, podem ser vistas algumas destas magníficas plantas:

Brownea ariza
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=129

Brownea disepala
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=184

Saraca indica
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=53

Forte abraço!




terça-feira, 14 de outubro de 2008

Para não levar gato por lebre...


Em minha página do Orkut, escolhi como avatar a foto de uma fruta silvestre que muito aprecio. Sempre me perguntam qual seu nome. Ou então afirmam: "essa frutinha tem muito lá no sítio", supondo ser a conhecida grumixama (Eugenia brasiliensis). Ledo engano. A espécie que selecionei como ícone é a Eugenia itaguahiensis, também conhecida como grumixama-anã ou grumixama-mirim.

As diferenças mais óbvias entre as duas grumixamas são o porte da árvore (2-4 m contra 8-15 m), as folhas (arredondadas e sem "cabinho" [pecíolo] contra alongadas e com "cabinho") e a precocidade. Sim, esta característica imediatamente separa a forma nanica da agigantada. Enquanto que uma E. brasiliensis pode levar de sete a dez anos para iniciar a produção, com apenas dois ou três anos um exemplar de E. itaguahiensis pode já frutificar.

Minha amiga Dea Conti, de Salto de Pirapora (SP), foi levada pela lábia de um "hábil" viveirista. Ele lhe vendeu, tempos atrás, uma muda de "grumixama-anã". Passaram-se anos. E nada da danada da planta produzir.

Quando me perguntou o motivo, expliquei-lhe as diferenças entre as duas espécies. A Vó maqaqa (apelido pelo qual é carinhosamente conhecida no grupo flores-frutoseCia do Yahoo), com seu habitual bom humor, exclamou: "Dancei! Não é a anã."

Para que outros leitores não levem gato por lebre também, decidi publicar a estória e as imagens da verdadeira grumixama-mirim.

Forte abraço!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Não confunda uBaias com uVaias!


No post do dia 27 de setembro, apresentei aos internautas a ubaia (Eugenia patrisii), intrigante fruta nativa da Amazônia, de vibrante coloração vermelha, mas desconhecida da maioria das pessoas.

De passagem, mencionei a uvaia (Eugenia pyriformis), que em comum com sua prima do Norte tem tão-somente o nome popular parecido e a identidade genérica.

Com efeito, aquela eugênia amarelo-alaranjada é largamente cultivada em pomares domésticos por toda sua vasta área de distribuição, que vai desde Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, acompanhando a grande Bacia do Rio Paraná. Possui tantos fãs ardorosos que até ganhou uma comunidade exclusiva no site de relacionamentos Orkut.

Seu fruto possui um formato variável, quase esférico ou piriforme, de casca lisa ou rugosa, e de sabor acidulado ou doce. Como características constantes listam-se a espessura do epicarpo, sempre uma "pele" finíssima, e a polpa espessa, extremamente suculenta e muitíssimo perfumada. Quem já conhece seu aroma faz questão de incluí-la no rol das frutas mais cheirosas, ao lado do abacaxi (Ananas comosus) e da feijoa (Acca sellowiana).

A uvaieira é uma árvore adorável, medindo de 4 a 12 m de altura. Sua folhagem é muito harmoniosa, formada por numerosos pares de folhas estreitas e alongadas em um mesmo ramo. Inicia muito cedo a produção, com apenas dois ou três anos de idade, frutificando abundantemente. Presta-se muito bem para cultivo em vasos, desde que não se podem suas raízes, o que seria quase letal para a Eugenia pyriformis.

Com uvaias preparam-se maravilhosos licores, sucos, geléias e sorvetes. Sua polpa congelada começa a ser comercializada em larga escala por alguns fruticultores em Minas Gerais. Até o momento, a demanda vem superando largamente a oferta.

Praticamente inexistem estudos sobre a variabilidade e possibilidades da uvaia. O único de que se tem notícia é de autoria do pioneiro João Rodrigues de Mattos [Mattos, J. R. 1988. Uvalheira. Sér. fruteiras nativas do Brasil, 3. Porto Alegre, Secretaria de Agricultura do RS. 36 p.].

Espero que, num futuro próximo, mais pesquisadores e fruticultores dediquem-se a esta maravilhosa mirtácea nacional, tornando-a mais comum no dia-a-dia do brasileiro médio.

Forte abraço!

[Para saber mais, acesse: www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=226]

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A feijoa não é a mulher do feijão!




O texto de hoje foi escrito por nosso amigo Antonio Morschbacker, engenheiro químico e grande estudioso das frutas brasileiras. Antonio mantém uma interessante página sobre o assunto, recheada de caprichadas fotos e ótimos artigos.
(http://paginas.terra.com.br/educacao/FrutasNativas/).

Alguém sabe o que é feijoa?

A primeira resposta, bem humorada, é que ela é a mulher do feijão. Grande engano. A feijoa é uma das melhores frutas nativas do Brasil. É também conhecida como goiaba-serrana ou Acca sellowiana, seu nome científico. Antigamente era Feijoa sellowiana, em homenagem a João da Silva Feijó, importante naturalista brasileiro do século XVIII, e que acabou se tornando a denominação pela qual ela é conhecida nos lugares onde é cultivada.

A feijoeira é um arbusto ou pequena arvoreta pertencente à família das Myrtaceae, que inclui espécies tão distintas como o eucalipto, a jabuticaba e algumas pimentas. Hoje ela é rara em seu habitat natural. São duas as principais localidades: a primeira vai da parte meridional do Rio Grande do Sul até o Uruguai. A outra fica nas Serras Gaúcha e Catarinense, na Mata de Araucária. Os exemplares nativos destas duas regiões apresentam algumas características distintas entre si. Por exemplo, as frutas que ocorrem mais ao sul possuem a casca mais lisa e sementes menores.

No final do século XIX, o botânico francês Edouard André levou sementes do Uruguai para o sul da França, de onde a espécie se espalhou pelo mundo. É cultivada hoje em locais bastante distintos como Israel, Itália, Colômbia e Rússia. É explorada comercialmente na Califórnia e na Nova Zelândia, lugares onde foram desenvolvidas as principais variedades hoje comercializadas, todas elas provavelmente originadas das sementes de André.

Na sua região de origem são raros os trabalhos de coleta e seleção de cultivares. O primeiro deles foi realizado por João Rodrigues de Mattos, engenheiro agrônomo da maior importância na pesquisa de espécies nativas, já citado neste espaço no capítulo sobre Eugenia mattosii. Mattos, entre 1950 e 1975, avaliou 15 variedades de origem uruguaia. Mais recentemente, o Dr. Jean-Pierre Ducroquet, da EPAGRI de São Joaquim (SC), estabeleceu um programa de coleta e seleção de sementes na Serra Catarinense, além da hibridização deste material com as melhores plantas selecionadas na Nova Zelândia. Este trabalho é da maior importância pela introdução de um material genético originado de uma área cujos exemplares foram muito pouco explorados até então.

Aproveitando o seu grande potencial ornamental, é possível encontrar a feijoa na arborização de ruas em cidades do Mediterrâneo, como em Nice. As suas folhas, verde-escuras e brilhosas em cima e verde-prateadas e ligeiramente aveludadas na face inferior, fazem dela uma das mais bonitas espécies da família. As suas flores são muito características e de grande beleza. Os primeiros botões se desenvolvem no final de setembro e o período de floração vai até novembro. Os seus estames e a parte interior de suas pétalas são de uma tonalidade vermelho-carmim intensa. As pétalas são doces e suculentas o que, junto com a coloração viva, atrai um grande número de pássaros, como o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e os sanhaços (Thraupis sayaca e T. cyanoptera), que são os seus principais agentes polinizadores.

Mas vocês irão me perguntar - porque comer as pétalas se a fruta é tão saborosa? É porque as frutas nesta época do ano, mal começaram a se desenvolver. Falaremos sobre elas num próximo post.