sábado, 27 de dezembro de 2008

Araçá-morango, delícia da Mata Atlântica















Nos posts dos dias 28/05, 01/06 e 04/06 de 2008, dedicamos este espaço ao araçá-pêra (Psdium acutangulum), notável espécie da Flora Amazônica. Hoje, nos ocuparemos do saboroso araçá-morango (Psidium cattleianum), o mais popular nas regiões Sudeste e Sul.

P. cattleianum foi apresentado à ciência por Sabine em 1821, em homenagem a William Cattley (1788-1835), famoso comerciante de plantas na Inglaterra pré-vitoriana. Aliás, o conhecidíssimo gênero de orquídeas Cattleya faz igualmente reverência ao horticultor bretão.
Porém, muito antes disso, a espécie já havia sido difundida pelos portugueses mundo afora. No século XVI foi levada para a China, e daí para a Europa e restante da Ásia. Foi por esta razão que se chegou a pensar tratar-se de uma planta chinesa. Por apresentar certa resistência a baixas temperaturas, e um sabor sem adstringência, considerado por alguns superior ao da goiaba (Psidium guajava), encontra-se hoje disseminada por todo o mundo tropical e subtropical.

O araçá-morango tem seu habitat natural nas restingas litorâneas e nas vertentes atlânticas da mata pluvial, chegando a algumas serras, onde se torna mais raro. Neste último local, costuma ser substituído por um araçazeiro semelhante, só que de porte muito maior (25-30 m, versus 1-3 m), batizado de Psidium longipetiolatum pelo uruguaio Daniel Legrand.
Nossa eleita para o texto de hoje é uma fruta esférica, de 3-4 cm de diâmetro, de casca fina e coroada por um cálice persistente de forma característica (veja as fotos que ilustram este texto), o que a diferencia imediatamente de outros araçás. Como sugerido pelas duas imagens acima, há uma forma de frutos vermelhos e outra de amarelos. A última é conhecida na botânica como Psidium cattleianum var. lucidum. As duas variedades têm ótimo equilíbrio ácido-doce, sendo que a vermelha apresenta menor número de sementes.
A planta é um arbusto ou arvoreta, de pouco mais de um ou dois metros de altura quando cultivada. Possui folhas grossas, muito lisas e brilhantes na face superior, de ápice pontiagudo. O tronco é liso, marrom-avermelhado e descamante.
Seu cultivo é muito fácil, desde que mantida a pleno sol. Adapta-se a uma grande variedade de solos e climas, e pode ser cultivada com muito sucesso em vasos. Recipiente onde, por sinal, frutificou a variedade vermelha retratada na primeira imagem deste post.
Para saber mais, acesse nosso site:
Forte abraço!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Pisando em guaburitis








Este espaço conta novamente com a valorosa colaboração de Antonio Morschbacker, que hoje nos relata seu encontro com os saborosos guaburitis. Para quem ainda não conhece, aqui vai o endereço de sua página sobre frutas nativas:
(http://paginas.terra.com.br/educacao/FrutasNativas/)

Plinia rivularis é uma arvoreta rara, apesar de estar dispersa por boa parte do Brasil. Ela ocorre em estado silvestre desde o Pará, mas é especialmente frequente nos estados da Região Sul, alcançando ainda a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.

Os seus frutos, dependendo da região, são chamados de baporeti, guaburiti, guaramirim ou cambucá-peixoto. Esta mirtácea é uma parente próxima do cambucá (Plinia edulis) e das várias espécies de jabuticabas (atualmente incluídas no gênero Myrciaria).

Em 2006 fui informado sobre a existência de uma pequena árvore bastante produtiva ao sul de Porto Alegre. Após algumas visitas pude finalmente encontrá-la em plena frutificação.

Todos já ouviram falar na expressão "pisando em ovos". Foi assim que me senti durante a coleta que fiz do guaburiti.

A arvoreta de tronco múltiplo alcança cerca de seis metros de altura. Ao final do inverno, começa a emitir uma nova brotação de cor avermelhada, típica de algumas mirtáceas. A floração tem início no final de setembro e os seus frutos globosos começam a amadurecer 2 meses depois. Estes não são muito grandes, possuindo em média 2 cm de diâmetro. São ligados aos ramos por um pecíolo ("cabinho") longo de até 1 cm.

Mas em compensação à pequena dimensão dos frutinhos, a arvoreta estava carregadíssima. Estimei que entre os frutos já caídos no chão e aqueles ainda nos ramos, havia cerca de 5 mil unidades. Os imaturos são verde claros e, à medida que amadurecem, vão mudando a sua tonalidade para o amarelo, passando pelo alaranjado, pelo vermelho, pelo vinho, até ficarem quase negros. Este fenômeno proporciona à árvore em frutificação uma nuance de todas essas cores contrastadas com o verde de suas folhas (e no dia da coleta com o belíssimo céu azul!). Com o amadurecimento, o sabor da suculenta polpa dos guaburitis perde a acidez e ganha em doçura.

A quantidade de frutos no chão era tanta que era inevitável pisar em alguns a cada passo, fazendo com que, por mais cuidado que eu tivesse, a sua casca lisa e fina se rompesse e aqueles estourassem. Eu e minha filha nos sentimos como se estivéssemos pisando em plástico bolha. Como cada guaburiti possuía 1 ou 2 sementes, fiquei intrigado porque uma espécie tão bonita, tão produtiva e com frutos tão gostosos, não seria mais difundida.

Para saber mais, acesse:
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=225

sábado, 22 de novembro de 2008

As sapucaias do francês

O primeiro paisagista a utilizar espécies da flora brasileira em seus projetos foi o francês Auguste François Marie Glaziou, cuja obra muito admiro.

Nascido na cidade de Lannion, em 1833, logo graduou-se engenheiro civil. Ainda jovem, estudou botânica no Musée d'Histoire Naturelle de Paris. Foi quando, aos 25 anos, foi convidado por ninguém menos que o Imperador D. Pedro II para tornar-se diretor dos Parques e Jardins.

O monarca não poderia ter sido mais feliz em sua escolha. Glaziou permaneceu à frente do cargo até o ano de 1897, sobrevivendo até à Proclamação da República. Durante quase 40 anos emprestou seu enorme talento e impressionante capacidade de trabalho à nossa pátria. Percorreu extensas regiões, sempre coletando e herborizando milhares de espécimes que pudessem ser incluídos em seus projetos. Nessas andanças, descobriu centenas de novas espécies, muitas das quais levam seu nome, como por exemplo a deliciosa cabeludinha (Myrciaria glazioviana).

São de sua autoria os jardins do Palácio Imperial de Petrópolis, do Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora, do Jardim da Aclimação em São Paulo, do Passeio Público e do Campo de Santana, ambos no Rio de Janeiro. Sem esquecer de sua mais requintada obra, a Quinta da Boa Vista, então residência oficial da Família Real.

Lá estão plantadas duas aléias paralelas da magnífica Lecythis pisonis, adornando a via que dá acesso ao próprio Palácio. Nos meses de setembro a outubro, a sapucaia-vermelha proporciona um espetáculo inesquecível, recobrindo-se de uma folhagem jovem róseo-avermelhada, praticamente simultânea com a floração. Melhor do que utilizar palavras na vã tentativa de descrever a cena é admirar a imagem que abre este post.

Essa é a única espécie do gênero Lecythis (sapucaia, que na linguagem tupi-guarani significa galinha, em alusão às castanhas dentro do fruto lenhoso arranjadas tais quais ovos em um ninho) que apresenta esse singular fenômeno.

Diziam-me que a sapucaia-vermelha levaria mais de dez anos, 15 a 20 talvez, para frutificar. Duvidando de tal assertiva, em 2001 colhi sementes diretamente das árvores plantadas por Glaziou na Quinta da Boa Vista. Plantei 20 mudas ladeando uma estrada aqui no E-jardim. Fiquei estarrecido quando, em novembro de 2004, apenas três anos após o plantio, uma das sapucaieiras produziu seu primeiro fruto. Hoje esta árvore frutifica fartamente, de tal forma que todas as mudas que produzimos sejam oriundas deste indivíduo precoce.

Vejam a bela foto do fruto lenhoso e sementes em nosso site:
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=195

Forte abraço!


domingo, 16 de novembro de 2008

Apresentando... a inigualável ilama!


A família Annonaceae inclui cerca de 2.300 espécies em todo o mundo. Estima-se que cerca de 400 delas produzam frutos comestíveis, de formas e sabores muito variados. Este total está dividido entre 35 gêneros, dentre os quais Annona é, sem sombra de dúvida, o mais conhecido.

Nossos índios tupi-guaranis usavam a palavra “aratycu” (posteriormente adaptada para araticum em português) para designar essas iguarias. O termo significa "fruto macio" ou "fruto dos céus", segundo alguns autores.

O fato é que são frutas muitíssimo apreciadas por nossa população, com destaque para as conhecidas ata, fruta-de-conde ou pinha (Annona squamosa), graviola (A. muricata) e atemóia (A. cherimola x A. squamosa). No Brasil Central o marolo (A. crassiflora) reúne muitos fãs, e na Amazônia o destaque fica por conta do biribá (Rollinia mucosa).

Hoje vamos dedicar este espaço à mais saborosa anonácea que pode ser cultivada nas regiões tropicais, ao nível do mar: a ilama (Annona diversifolia).

Ainda praticamente desconhecida dos fruticultores brasileiros, esta maravilhosa fruteira é originária dos contrafortes das montanhas voltadas para o Oceano Pacífico de El Salvador, Guatemala e México. Nesta região, ela é plantada desde o nível do mar até 700 m de altitude.

O fruto mede cerca de 12 cm de diâmetro, e sua forma varia do quase esférico ao ovalado. Sua casca é resistente ao transporte, e possui uma bela tonalidade verde-azulada. A polpa apresenta um aroma característico e sabor doce, muito agradável. Há ilamas de coloração branca a vermelha, passando pelos tons intermediários, como as retratadas na foto acima.

A ilameira é uma arvoreta de 3-6 m, de copa aberta e geralmente ramificada desde a base. Possui folhas grandes, de formato obovado. Suas raízes são pivotantes, e permitem uma boa fixação mesmo em solos pedregosos. Não é nada exigente quanto à composição do substrato, mas não tolera encharcamento. Deve ser cultivada a sol pleno, em climas tropicais ou subtropicais. Na última condição perdem as folhas durante o inverno (a partir de mínimas de 7 Celsius). Climas ideais envolvem precipitações de 1400 a 2000 mm bem distribuídos durante a estação chuvosa, com período de estiagem bem definido.

Vejam mais fotos e leiam mais sobre a Annona diversifolia em nosso site:
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=252

Forte abraço!

domingo, 2 de novembro de 2008

Eugenia rostrifolia, um show de cores em seu jardim

Alguns anos atrás, em uma viagem à Região Sul, deparei-me com um arbusto de cores estonteantes, cultivado em um jardim doméstico. Tratava-se de uma arvoreta de cerca de 1,5 m de altura, com folhas lanceoladas e copa densa, verde-clara.

Sobre a última, sobressaíam aqui e ali aglomerados de folhas jovens tingidos de uma maravilhosa tonalidade entre fúcsia e rosa-choque (ver foto).

Procurei logo saber que planta espetacular era aquela, inédita para mim. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que eu estava diante de uma mirtácea nativa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, conhecida no mundo científico como Eugenia rostrifolia.

Em seu habitat natural, é chamada de "guapi", mas infelizmente tem sido muito perseguida por agricultores e madeireiros. A razão é a ótima qualidade de sua madeira, o que faz com que
exemplares ainda jovens sejam abatidos para fabricar timões de carroças e varais.

Suas folhas apresentam um formato muito característico, estreito e alongado, com um abrupto prolongamento na extremidade, que os botânicos chamam de "rostro" (veja a imagem que ilustra este texto). Daí seu nome latino.

Vale também dizer que seus frutos são esféricos, medindo 1,5-2 cm, de coloração vermelho-alaranjada. São saborosos e atraem muitos pássaros.

Apesar de alcançar grande porte nas matas, Eugenia rostrifolia pode ser mantida durante muitos anos como um mero arbusto em jardins, ou mesmo como planta de vaso.

Aqui no E-jardim, plantamos há três anos um exemplar, que vem se destacando pela beleza. Divido com os leitores a imagem capturada ontem pela manhã, logo após uma breve garoa.

Forte abraço!




domingo, 19 de outubro de 2008

As árvores-lenços

Árvore-lenço é uma tradução livre do inglês "handkerchief tree", nome que se aplica a algumas das mais belas árvores floríferas do mundo tropical.

Pertencem todas à extensa família das Fabáceas, também conhecida como das Leguminosas.

A denominação se deve ao fenômeno das folhas jovens desenvolverem-se em "pencas" (ver fotos). Elas são inicialmente claras e flácidas, assemelhando-se a lenços úmidos, suspensos pelo centro e dependurados nas pontas dos galhos.

Essas brotações apresentam várias padronagens em tons pastéis, podendo ser de coloração uniforme (bege, rósea ou verde-clara) ou marmorizada como Brownea ariza, a espécie apresentada nas fotos que enfeitam estas linhas.

Acompanhar o surgimento e desenvolvimento do "lenço" é um espetáculo à parte. A princípio a planta emite uma brotação do tamanho e forma de um lápis, com os folíolos completamente enrolados. Em seguida, os últimos subitamente se expandem em largura e comprimento, tomando a forma mostrada nas imagens acima e abaixo. Em mais um ou dois dias enrijecem-se, formando uma folha composta, verde e brilhante, que assume uma posição quase horizontal.

Na Região Neotropical, o grupo é representado pelos gêneros Brownea e Browneopsis, conhecidos por vários nomes vulgares, como rosa-da-montanha, sol-da-mata, etc. Já no Sudeste Asiático, listam-se os gêneros Saraca (de múltiplas flores grandes, nos tons vermelho e alaranjado), Amherstia ("rainha-das-árvores") e o quase desconhecido Maniltoa (de belíssimas inflorescências alvas).

Em nosso site, podem ser vistas algumas destas magníficas plantas:

Brownea ariza
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=129

Brownea disepala
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=184

Saraca indica
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=53

Forte abraço!




terça-feira, 14 de outubro de 2008

Para não levar gato por lebre...


Em minha página do Orkut, escolhi como avatar a foto de uma fruta silvestre que muito aprecio. Sempre me perguntam qual seu nome. Ou então afirmam: "essa frutinha tem muito lá no sítio", supondo ser a conhecida grumixama (Eugenia brasiliensis). Ledo engano. A espécie que selecionei como ícone é a Eugenia itaguahiensis, também conhecida como grumixama-anã ou grumixama-mirim.

As diferenças mais óbvias entre as duas grumixamas são o porte da árvore (2-4 m contra 8-15 m), as folhas (arredondadas e sem "cabinho" [pecíolo] contra alongadas e com "cabinho") e a precocidade. Sim, esta característica imediatamente separa a forma nanica da agigantada. Enquanto que uma E. brasiliensis pode levar de sete a dez anos para iniciar a produção, com apenas dois ou três anos um exemplar de E. itaguahiensis pode já frutificar.

Minha amiga Dea Conti, de Salto de Pirapora (SP), foi levada pela lábia de um "hábil" viveirista. Ele lhe vendeu, tempos atrás, uma muda de "grumixama-anã". Passaram-se anos. E nada da danada da planta produzir.

Quando me perguntou o motivo, expliquei-lhe as diferenças entre as duas espécies. A Vó maqaqa (apelido pelo qual é carinhosamente conhecida no grupo flores-frutoseCia do Yahoo), com seu habitual bom humor, exclamou: "Dancei! Não é a anã."

Para que outros leitores não levem gato por lebre também, decidi publicar a estória e as imagens da verdadeira grumixama-mirim.

Forte abraço!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Não confunda uBaias com uVaias!


No post do dia 27 de setembro, apresentei aos internautas a ubaia (Eugenia patrisii), intrigante fruta nativa da Amazônia, de vibrante coloração vermelha, mas desconhecida da maioria das pessoas.

De passagem, mencionei a uvaia (Eugenia pyriformis), que em comum com sua prima do Norte tem tão-somente o nome popular parecido e a identidade genérica.

Com efeito, aquela eugênia amarelo-alaranjada é largamente cultivada em pomares domésticos por toda sua vasta área de distribuição, que vai desde Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, acompanhando a grande Bacia do Rio Paraná. Possui tantos fãs ardorosos que até ganhou uma comunidade exclusiva no site de relacionamentos Orkut.

Seu fruto possui um formato variável, quase esférico ou piriforme, de casca lisa ou rugosa, e de sabor acidulado ou doce. Como características constantes listam-se a espessura do epicarpo, sempre uma "pele" finíssima, e a polpa espessa, extremamente suculenta e muitíssimo perfumada. Quem já conhece seu aroma faz questão de incluí-la no rol das frutas mais cheirosas, ao lado do abacaxi (Ananas comosus) e da feijoa (Acca sellowiana).

A uvaieira é uma árvore adorável, medindo de 4 a 12 m de altura. Sua folhagem é muito harmoniosa, formada por numerosos pares de folhas estreitas e alongadas em um mesmo ramo. Inicia muito cedo a produção, com apenas dois ou três anos de idade, frutificando abundantemente. Presta-se muito bem para cultivo em vasos, desde que não se podem suas raízes, o que seria quase letal para a Eugenia pyriformis.

Com uvaias preparam-se maravilhosos licores, sucos, geléias e sorvetes. Sua polpa congelada começa a ser comercializada em larga escala por alguns fruticultores em Minas Gerais. Até o momento, a demanda vem superando largamente a oferta.

Praticamente inexistem estudos sobre a variabilidade e possibilidades da uvaia. O único de que se tem notícia é de autoria do pioneiro João Rodrigues de Mattos [Mattos, J. R. 1988. Uvalheira. Sér. fruteiras nativas do Brasil, 3. Porto Alegre, Secretaria de Agricultura do RS. 36 p.].

Espero que, num futuro próximo, mais pesquisadores e fruticultores dediquem-se a esta maravilhosa mirtácea nacional, tornando-a mais comum no dia-a-dia do brasileiro médio.

Forte abraço!

[Para saber mais, acesse: www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=226]

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A feijoa não é a mulher do feijão!




O texto de hoje foi escrito por nosso amigo Antonio Morschbacker, engenheiro químico e grande estudioso das frutas brasileiras. Antonio mantém uma interessante página sobre o assunto, recheada de caprichadas fotos e ótimos artigos.
(http://paginas.terra.com.br/educacao/FrutasNativas/).

Alguém sabe o que é feijoa?

A primeira resposta, bem humorada, é que ela é a mulher do feijão. Grande engano. A feijoa é uma das melhores frutas nativas do Brasil. É também conhecida como goiaba-serrana ou Acca sellowiana, seu nome científico. Antigamente era Feijoa sellowiana, em homenagem a João da Silva Feijó, importante naturalista brasileiro do século XVIII, e que acabou se tornando a denominação pela qual ela é conhecida nos lugares onde é cultivada.

A feijoeira é um arbusto ou pequena arvoreta pertencente à família das Myrtaceae, que inclui espécies tão distintas como o eucalipto, a jabuticaba e algumas pimentas. Hoje ela é rara em seu habitat natural. São duas as principais localidades: a primeira vai da parte meridional do Rio Grande do Sul até o Uruguai. A outra fica nas Serras Gaúcha e Catarinense, na Mata de Araucária. Os exemplares nativos destas duas regiões apresentam algumas características distintas entre si. Por exemplo, as frutas que ocorrem mais ao sul possuem a casca mais lisa e sementes menores.

No final do século XIX, o botânico francês Edouard André levou sementes do Uruguai para o sul da França, de onde a espécie se espalhou pelo mundo. É cultivada hoje em locais bastante distintos como Israel, Itália, Colômbia e Rússia. É explorada comercialmente na Califórnia e na Nova Zelândia, lugares onde foram desenvolvidas as principais variedades hoje comercializadas, todas elas provavelmente originadas das sementes de André.

Na sua região de origem são raros os trabalhos de coleta e seleção de cultivares. O primeiro deles foi realizado por João Rodrigues de Mattos, engenheiro agrônomo da maior importância na pesquisa de espécies nativas, já citado neste espaço no capítulo sobre Eugenia mattosii. Mattos, entre 1950 e 1975, avaliou 15 variedades de origem uruguaia. Mais recentemente, o Dr. Jean-Pierre Ducroquet, da EPAGRI de São Joaquim (SC), estabeleceu um programa de coleta e seleção de sementes na Serra Catarinense, além da hibridização deste material com as melhores plantas selecionadas na Nova Zelândia. Este trabalho é da maior importância pela introdução de um material genético originado de uma área cujos exemplares foram muito pouco explorados até então.

Aproveitando o seu grande potencial ornamental, é possível encontrar a feijoa na arborização de ruas em cidades do Mediterrâneo, como em Nice. As suas folhas, verde-escuras e brilhosas em cima e verde-prateadas e ligeiramente aveludadas na face inferior, fazem dela uma das mais bonitas espécies da família. As suas flores são muito características e de grande beleza. Os primeiros botões se desenvolvem no final de setembro e o período de floração vai até novembro. Os seus estames e a parte interior de suas pétalas são de uma tonalidade vermelho-carmim intensa. As pétalas são doces e suculentas o que, junto com a coloração viva, atrai um grande número de pássaros, como o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e os sanhaços (Thraupis sayaca e T. cyanoptera), que são os seus principais agentes polinizadores.

Mas vocês irão me perguntar - porque comer as pétalas se a fruta é tão saborosa? É porque as frutas nesta época do ano, mal começaram a se desenvolver. Falaremos sobre elas num próximo post.

sábado, 27 de setembro de 2008

Yes, nós temos ubaia!!!


Ubaia é uma palavra derivada do tupi-guarani (ybá-aia = fruto azedo), que se confunde com uvaia. O último nome (com "v") é imediatamente associado à espécie Eugenia pyriformis (=E. uvalha), muitíssimo cultivada em pomares domésticos nos estados de Minas Gerais e São Paulo, tanto que até ganhou comunidade própria no site de relacionamentos Orkut.

No Nordeste, "ubaia" qualifica várias espécies diferentes de Eugenia, como E. luschnathiana (mais apropriadamente conhecida como pitomba-da-baía) e E. speciosa (no Sul chamada de laranjinha-do-mato), entre outras.

Paulo Cavalcante, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi (PA), consagrou em sua obra [Cavalcante, P.B. 1996. Frutas comestíveis da Amazônia. Belém, Mus. Paraense Emílio Goeldi. 279 p.] a denominação (com "b") exclusivamente para Eugenia patrisii, no que foi seguido por Harri Lorenzi [Lorenzi, H. et al. 2006. Frutas brasileiras e exóticas cultivadas. Nova Odessa, Instituto Plantarum. 672 p.] e finalmente por todos os "colecionadores de frutas" desse imenso Brasil.

A ubaieira ocorre no estado silvestre em vários países da Amazônia, como Brasil (Pará e Amazonas), Guianas, Bolívia e Peru. Costuma crescer no interior da mata (sub-bosque), onde é uma arvoreta de até 5 m de altura, de copa rala e notável por sua folhagem jovem fortemente tingida na tonalidade rubi (ver a segunda foto que ilustra este texto). Eventualmente vegeta em capoeiras a céu aberto, onde dificilmente alcança mais de 1 m. Produz flores brancas com pedicelos ("cabinhos") muito longos, que mais tarde transformam-se em frutos intensamente coloridos de vermelho-rosado desde recém-formados (veja a primeira imagem). Atingem de 2,5 a 3 cm de diâmetro, possuindo polpa igualmente vermelha e de sabor agridoce, ligeiramente aromático, que agrada muito.

Há coisa de cinco ou seis anos, plantei cinco exemplares em vasos de 25 litros com substrato rico em húmus e adubação bem balanceada. No início de 2008, um deles foi finalmente transferido para o solo, sob a copa de um ingazeiro-de-metro (Inga edulis), recebendo toda a nossa atenção no E-jardim. Qual não foi minha surpresa quando, não esta ubaieira "mimada", mas uma outra ainda envasada, lançou várias flores. "Sorte de principiante" - resmunguei. "Não irão vingar, pois dificilmente uma eugênia frutifica logo na primeira florada" - imaginei. Quebrei a cara. Aqui estão os frutinhos para provar.

Forte abraço!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Eugenia matosii, a rainha dos bonsais

Quem aprecia a milenar arte japonesa, certamente já se deparou com uma planta de folhas pequenas (1,5-3 cm), muito brilhantes e com textura de plástico (vide foto). Por sua beleza, rusticidade, folhagem graciosa e diminutos frutos de cor escarlate, ela reina absoluta no bonsaísmo nacional.

No ramo, é conhecida por diversos nomes, que variam de região para região: mini-cerejeira, cerejinha, pitanguinha, pitanga-anã, etc. Porém, poucos sabem sua classificação botânica, e muito menos sua história e origem.

Esta espécie foi descoberta nos últimos anos da década de 1950 pelo infatigável engenheiro agrônomo João Rodrigues de Mattos, nos arredores de Blumenau e Florianópolis (SC). Era na época (e hoje mais ainda) raríssima na Natureza. Mattos era um grande entusiasta das frutas silvestres brasileiras, e dedicou-se com afinco ao estudo da botânica sistemática das mesmas. Sua predileção recaía sobre a família Myrtaceae, à qual prestou grande contribuição em suas passagens pelo Instituto de Botânica (SP) e pela Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul. Publicou um sem-número de trabalhos sobre estas plantas, tanto na área agronômica quanto na botânica, que até hoje servem como referência.

As amostras coligidas na vertente atlântica das matas de Blumenau serviram como base para a descrição de Eugenia mattosii em 1961, uma justa homenagem do botânico uruguaio Diego Legrand a seu colega brasileiro (Legrand, D. 1961. Sellowia, 13: 310).

Na Natureza, a pitanguinha-de-mattos atinge no máximo 0,50-1 m de altura, formando arbustos compactos, de caule e ramos muito rijos, densamente folhados, e de copa densa e arredondada. Os frutos no habitat natural mal chegam a 1 cm de diâmetro, mas nas formas hoje cultivadas são bem maiores, medindo de 1,5 a 2 cm. Assim que se formam são piriformes (formato de pêra), tomando a forma quase esférica à medida em que amadurecem. Sua polpa é muito doce, aquosa e destacada da semente.

Como planta ornamental, além de bonsais, prestam-se admiravelmente bem para a formação de bordaduras ao longo de muros, escadas, canteiros ao redor de piscinas, vasos ornamentais, etc. Algumas pessoas aparam sua copa periodicamente, mantendo-as bem redondinhas, o que lhes empresta um formoso aspecto de "buxinho".

(Para saber mais, acesse nosso site:
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=11)


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A formidável pitangatuba (2) - características e cultivo



No post anterior, escrevi que a pitangola (mais um apelido que lhe foi dado, em função de parecer-se com um misto de pitanga e carambola) seria uma planta com grandes qualidades. Hoje vamos desenvolver o tema.

A Eugenia neonitida é uma mirtácea endêmica (com restrita área de distribuição) das restingas fluminenses, até recentemente quase desconhecida dos fruticultores. Em seu habitat natural, é um arbusto compacto, de menos de 1 m de altura. Em condições de cultivo, atinge pouco menos de 2 m. Seu tronco possui uma casca externa áspera, que se desprende em placas. As folhas têm textura de couro (coriáceas), são elípticas e pontiagudas no ápice. São verde-escuras na face superior, e mais claras na inferior. As nervuras são bem impressas na parte superior.

Nos meses de outubro a março, a planta floresce abundantemente, frutificando entre setembro e fevereiro.

Os frutos são de chamar a atenção de qualquer pessoa, pois chegam a medir 7 cm x 5 cm, amarelo-alaranjados quando bem maduros, ocasião em que desprendem um aroma fantástico, superior ao das melhores uvaias (Eugenia pyriformis). A porcentagem de polpa é imensa, pois os frutos apresentam uma semente única, relativamente pequena. Esta semente se destaca facilmente do restante da fruta. A pitangatuba é muito suculenta, parecendo se "derreter" quando posta na boca, causando uma agradável sensação. Seu sabor é agridoce, que pode tornar-se mais adocicado à medida em que a adubamos com potássio (sob a forma de KCl, por exemplo) e a cultivamos a pleno sol.

Um estudo recente [Vilar, J. et al., 2006. Potencial nutritivo de frutos de pitangão (Eugenia neonitida Sobral). Rev. Bras. Frutic., 28(3): 536-538], disponível online no site www.todafruta.com.br, revelou que seus valores nutricionais são amplamente superiores aos da conhecida pitanga-comum (Eugenia uniflora), recomendando-a para plantio e exploração comercial de polpa.

Cabe aqui repetir que o sabor do pitangão em nada se assemelha ao da pitanga-comum. Enquanto a última sempre apresenta algum sabor resinoso (aquele "amarguinho" característico), E. neonitida não apresenta qualquer sinal de amargor, deixando invariavelmente um gosto muito agradável na boca.

Ela é uma planta de grande adaptabilidade, indo bem em climas quentes ou frios, em qualquer tipo de solo, e beneficiando-se amplamente de uma boa adubação. Pode ser plantada em pomares ou mesmo em vasos e jardineiras. Frutifica precocemente, a partir de um ano e meio ou dois anos de idade.

Para se ter uma idéia, basta dizer que aqui no E-jardim elas frutificam dentro de tubetes (!) de 19 cm de altura x 6 cm de largura, com uma altura de 40-50 cm! Muitos clientes nossos têm recebido as mudas nestas condições.

Espero que os fruticultores brasileiros se animem a desenvolver pomares comerciais de pitangatuba, e que sua polpa esteja brevemente disponível para consumo de nossa população.

Forte abraço!

domingo, 21 de setembro de 2008

A formidável pitangatuba (1) - seu nome científico

Formidável é uma palavra derivada do latim formidabilis (temível), que em português significa "acima do comum pela intensidade", descomunal, colossal. No Brasil dos anos 1950, o adjetivo começou a ser empregado para designar tudo que era admirável, excelente ou magnífico. Quem viveu ou tem parentes que viveram nessa época, certamente conhece o termo.

Pois em pleno século XXI, tive que recorrer a esta palavra para qualificar a pitangatuba, uma das mirtáceas de que mais gosto.

Inicialmente, tratarei da questão de seu nome científico, pois em diferentes publicações ela é abordada sob denominações incorretas (por exemplo, Eugenia edulis [Silva, S. & H. Tassara. 2005. Frutas Brasil frutas. São Paulo, Empresa das Artes. 324 p.]).

O primeiro cientista a coletar o pitangão (um sinônimo popular) foi o francês Auguste de Saint-Hilaire, em Cabo Frio, na então Província do Rio de Janeiro. Ele percorreu extenso roteiro em nosso país entre os anos de 1816 e 1822. Suas espirituosas aventuras foram narradas sob a forma de relatos de viagens, e publicadas em português pela Editora Itatiaia, de Belo Horizonte (MG).

O material colhido por Saint-Hilaire foi estudado por seu amigo Jacques Cambessèdes, que brindou a nova espécie com o epíteto de Eugenia nitida, em 1832. Contudo, não observara que este nome já existia, pois havia sido utilizado pelo Frei José Mariano da Conceição Velloso (em 1825) para designar outra planta.

O botânico alemão Otto Karl Berg, percebendo a duplicidade do nome, rebatizou-a de Phyllocalyx edulis, em 1857.

Tudo resolvido? Nada disso. Anos mais tarde, novos estudos mostraram que o gênero Phyllocalyx era um sinônimo de Eugenia, transformando a nomenclatura em Eugenia edulis.
Que por sua vez, já existia, criada pelo mesmo Frei Velloso de alguns parágrafos acima para mais uma espécie diferente.

Quanta confusão! Foi somente em 1995 que coube ao Prof. Marcos Sobral, grande estudioso da família Myrtaceae, criar um nome que (finalmente!) pudesse acolher a eleita do post de hoje: Eugenia neonitida (a palavra latina neo significa "nova").

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Explosão em rosa-choque!


Nos meses de agosto a setembro, ocorre uma "explosão" na cor rosa-choque aqui no E-jardim.

A árvore conhecida como pau-de-rosas ou sebastião-de-arruda (Physocalymma scaberrimum) despe-se completamente de suas folhas e, à maneira dos ipês (Tabebuia spp.), cobre-se inteiramente de magníficas flores de intensa coloração róseo-violeta, que contrastam fortemente com o azul do céu.

Esta fenomenal planta foi descoberta e batizada pelo naturalista-viajante Johann Emanuel Pohl, que chegara ao Brasil em 1821 na chamada Missão Austríaca, por ocasião do casamento do então Príncipe Dom Pedro com a Arquiduquesa Leopoldina. O botânico perambulou durante mais de três anos pelos sertões tupiniquins, tudo anotando em seu diário, mais tarde editado em forma de livro [Pohl, J. E. 1976. Viagem no interior do Brasil. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. 417 p.]. Na então capitania de Goiás deu-se, talvez, seu mais notável achado: o pau-de-rosas.

Trata-se de uma árvore de pequeno a médio porte (5-8 m em cultivo; até 15 m no habitat natural), com copa de formato piramidal. Suas folhas são obovadas, de textura semelhante à do couro (coriácea) e nervuras muito marcadas. Sua floração dispensa palavras, melhor será admirar as duas estonteantes imagens que acompanham este post.

O sebastião-de-arruda pertence à família Lythraceae, a mesma dos introduzidos resedás (Lagerstroemia spp.), tão utilizados em nossa arborização urbana. Não tenho dúvidas de que o "resedá-brasileiro" rivaliza e até supera em beleza seus "primos" estrangeiros. Em minhas viagens por Goiás, observei uma grande variação na tonalidade de rosa (do mais claro, praticamente branco ao quase violeta) no Physocalymma scaberrimum. É uma espécie de grande rusticidade e crescimento relativamente rápido (aqui no sítio levou quatro anos para iniciar a floração). Como se não bastassem todos estes predicados, sua madeira é de excelente qualidade, rajada de amarelo e vermelho-escuro. A tal ponto que é conhecida como "cega-machado" e "quebra-facão" entre os mateiros e madeireiros.

Espero, com o papo de hoje, contribuir para a divulgação desta maravilha da Flora Brasileira.

Forte abraço!

domingo, 7 de setembro de 2008

A sapota-do-solimões (Quararibea cordata)




O título de hoje parece sugerir um fruto da saborosa família das sapotáceas, que inclui os dulcíssimos sapoti (Manilkara zapota) e abiu (Pouteria caimito). Engana-se quem se deixa levar pela nomenclatura popular. A sapota-do-solimões é parente das coloridas paineiras (Ceiba spp.), dos ornamentais Hibiscus e do célebre cacau (Theobroma cacao), todos pertencentes à família das malváceas.

A sapota-do-solimões possui formato globoso (ca. 12 cm de diâmetro), casca marrom-esverdeada e com textura de couro (coriácea), que encerra uma polpa amarelo-alaranjada, suculenta e abundante, algo fibrosa (como a da manga). Seu sabor é simplesmente delicioso, doce e delicado. Pode ser comparado a uma mistura de manga com melão-cantaloupe. O número de sementes é pequeno, variando de duas a cinco por fruto.

É muito popular no oeste da Amazônia, a partir da cidade brasileira de Tefé até a região fronteiriça com o Peru e a Bolívia. Nesta área aparece com freqüência nas feiras livres, colhida na mata virgem, ou mesmo em quintais domésticos, onde é cultivada.

Praticamente desconhecida dos fruticultores brasileiros fora da região amazônica, a Quararibea cordata foi introduzida no sul dos EUA (Flórida) em 1964. O autor da proeza foi William Francis Whitman (1914-2007), mais conhecido como Bill Whitman.

Bill foi um americano de grande espírito empreendedor, tendo sido pioneiro em áreas tão diversas como surfe, filmagem subaquática e construção de shoppings centers. Mas sua grande paixão acabou sendo o cultivo de frutas tropicais. Ele conta em seu ótimo livro [Whitman, W. F. 2001. Five Decades with Tropical Fruit, a Personal Journey. Englewood, Quisqualis Books. 476 p.] que “apaixonou-se” em 1947 pela fruta-pão (Artocarpus altilis) durante uma viagem ao Taiti. A partir de então, começou a organizar uma fantástica coleção das mais deliciosas frutas de climas quentes vindas de todos os cantos do planeta.

Paralelamente, fundou em Miami uma associação de pessoas que compartilhavam o mesmo interesse, denominada “Rare Fruit Council International” (Conselho Internacional de Frutas Raras). Já no final da vida, Whitman fez uma vultosa doação ao Fairchild Tropical Garden, para a construção de uma sofisticada estufa para cultivo de clones das frutas de sua coleção (http://www.fairchildgarden.org/index.cfm?section=livingcollections&subsection=tropicalfruitprogram&page=whitmantropicalfruitpavilion).

Mas voltemos ao nosso tema de hoje. Bill importou o “South American sapote” da cidade de Iquitos, na Amazônia peruana. Distribuiu a espécie a vários membros do RFCI, obtendo finalmente sua frutificação em 1973. Inicialmente de produção tímida (apenas oito frutos), a carga aumentou consideravelmente nos anos subseqüentes, chegando a mais de 60 unidades por árvore. A capa de seu livro estampa justamente esta uma dessas colheitas (ver foto).

Em meados da década de 1990, tive o prazer de me corresponder com Whitman. Apesar de não tê-lo conhecido pessoalmente, amigos em comum trouxeram-me duas mudas suas de Q. cordata. Passei a cultivá-las com carinho, ministrando sombra (através do uso de tela sombreadora) e adubação equilibrada (principalmente orgânica).

As árvores desenvolveram-se muito bem no clima da Região Sudeste, apresentando maior crescimento após a remoção da cobertura sombreadora. Anualmente, aplico composto orgânico, enriquecido com fósforo e microelementos. Hoje, uma delas mede cerca de 3 m de altura, enquanto que a segunda ficou com menos de 2 m, por termos propositalmente removido seu ápice (uma técnica muito utilizada por fruticultores para reduzir o porte de algumas fruteiras). São plantas muito ornamentais, pelas imensas (40-50 cm) folhas em forma de coração (cordiformes) e pela copa simétrica, arredondada.

Qual não foi minha surpresa, dias atrás, quando aos sete anos de idade uma das sapoteiras-do-solimões aqui do E-jardim lançou uma bela carga de flores (ver a segunda foto que ilustra este texto). Divido a imagem com vocês, já torcendo para que se transformem em deliciosos frutos.

Forte abraço!

sábado, 30 de agosto de 2008

Das restingas para os jardins: as clúsias




Nem só de frutíferas vive nosso blog. Este espaço é dedicado a todas maravilhas do mundo vegetal, com especial carinho pelas da Flora Brasileira. Nossa missão é sempre surpreender o internauta com novas informações.

Evidentemente, a maioria dos leitores está cansada de conhecer a clúsia (Clusia fluminensis), uma arvoreta muito utilizada em paisagismo hoje em dia, seja plantada em vasos para terraços e interiores, seja cultivada na forma de arbusto isolado ou como cerca viva. É produzida aos milhares por muitos viveiros de mudas em todo o país.

O que nem todos sabem, é que este grupo de plantas foi introduzido em nossos jardins pelo grande Roberto Burle-Marx, na década de 1950. O genial artista vislumbrara que aquelas pequenas árvores, de folhas grossas e muito brilhantes, que cresciam sobre o areal das restingas dariam esplêndidas plantas ornamentais.

Mas a imensa diversidade das clúsias irá causar admiração em muita gente. De fato, o gênero Clusia engloba cerca de 250 espécies, distribuídas desde a Flórida até o Rio Grande do Sul. Somente no Brasil ocorrem pelo menos 70 espécies, a grande maioria inédita ou muito pouco conhecida de nossos paisagistas e colecionadores.

O nome latino homenageou Charles l’Ecluse (Carolus Clusius), botânico flamengo do século XVI (http://pt.wikipedia.org/wiki/Carolus_Clusius), considerado um dos pais da horticultura moderna.

Pertencem à mesma família botânica (Clusiaceae, antigamente Guttiferae) de saborosas frutas tropicais como o bacuri (Platonia insignis), o mangostão (Garcinia mangostana), o bacuripari (Garcinia macrophylla), o achachairu (Garcinia laterifolia), o abricó-do-pará (Mammea americana) e tantas outras. São geralmente árvores ou arbustos com folhagem muito vistosa, em forma de leque e quase suculenta. As inflorescências são muito bonitas e destacadas, havendo quem já as comparasse a flores de cera (ver foto). São quase todas plantas dióicas, isto é, flores femininas e masculinas crescem em indivíduos diferentes. O fruto é uma cápsula carnosa, que se assemelha a uma cebola, daí seus nomes populares, “ceboleira-da-praia” ou “ceboleira-do-mato” (veja a segunda foto).

Além de Clusia fluminensis, de flores alvas e da qual já falamos, são também conhecidas dos colecionadores tupiniquins C. lanceolata (retratada nas duas imagens que ilustram este post) e C. grandiflora (de enormes flores alvo-róseas). Mais raramente plantam-se C. criuva e C. nemorosa. E só.

Para dar uma idéia da colossal potencialidade destas plantas, deixo a seguinte listinha, composta apenas por espécies nativas de nossa pátria:

C. aemygdioi, C. amazonica, C. angustifolia, C. arrudea, C. axillaris, C. burchellii, C. burle-marxii, C. cambessedei, C. candelabrum, C. dardanoi, C. diamantina, C. fragrans, C. gardneri, C. gaudichaudii, C. grandifolia, C. hilariana, C. ildenfonsiana, C. insignis, C. intermedia, C. leprantha, C. macropoda, C. marizii, C. martiana, C. microstemon, C. obdeltifolia, C. organensis, C. palmicida, C. pana-panari, C. paralicola, C. parviflora, C. penduliflora, C. pernambucensis, C. pilgeriana, C. polysepala, C. purpurea, C. renggerioides, C. schomburgkiana, C. sellowiana, C. spiritu-sanctensis, C. viscida, C. weddeliana, etc.

Forte abraço!

domingo, 24 de agosto de 2008

A misteriosa pitanga-de-cachorro



Após um período em que estive muito envolvido com o desenvolvimento de novos projetos no E-jardim, retorno ao nosso blog já me desculpando com os leitores pela interrupção na atualização dos textos.

No post do dia 25 de maio sobre a princesinha-de-copacabana (Eugenia copacabanensis), listei as mirtáceas de frutos saborosos que vegetavam na restinga de Copacabana. Entre elas estava uma misteriosa fruta que o povo chamava de pitanga ou cambuí-de-cachorro.

O bom e antigo Manuel Pio Corrêa registrou-a em seu tratado (Pio Corrêa, M. 1926. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. vol. V. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional. 687p.), através de um pequeno verbete no qual informava ser o fruto “baga globosa e achatada, de sabor doce e adstringente”. Naquela época, o nome científico aplicado era Calyptranthes obscura, atualizado em 1981 para Neomitranthes obscura (o gênero Neomitranthes seria criado pelo botânico uruguaio Diego Legrand apenas em 1977).

Sob o nome antigo, o "pai" do Jardim Botânico de São Paulo, Frederico Carlos Hoehne, fez breve menção a nossa enigmática mirtácea em seu ótimo livro sobre frutas brasileiras (Hoehne, F. C. 1946. Frutas Indígenas. São Paulo, Instituto de Botânica, Secret. Agric., Ind. e Com. 88p.), porém pouco acrescentando ao que escrevera Pio-Corrêa. Um outro autor mais moderno (Cruz, G. L. 1985. Dicionário das Plantas Úteis do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira) adicionou mais uma pitada de informações, já usando seu nome científico atual.

Intrigado com a frutinha, passei a investigar seu passado. Aprendi que ela havia sido descrita por Alphonse de Candolle (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alphonse_Louis_Pierre_Pyrame_de_Candolle) no ano de 1828, com base em material coletado pelo grande botânico Carl Friedrich Philipp von Martius na vegetação praiana do Rio de Janeiro.

De tanto andar pelo que restou das restingas cariocas, acabei finalmente localizando a almejada pitangueira-de-cachorro. Ela cresce em áreas diretamente expostas ao sol, sobre solo arenoso com algum material orgânico e bem drenado. Em sua companhia vivem outras espécies de eugênias, como a pitangatuba (E. neonitida), a cereja-da-praia (E. punicifolia) e a pitanga-comum (E. uniflora). Também espécies de ceboleira-da-praia (Clusia lanceolata e C. fluminensis), hoje em dia tão cultivadas como plantas ornamentais, algumas bromélias (Aechmea nudicaulis, Neoregelia cruenta, Vriesea neoglutinosa) e o lindo arbusto-trepadeira Paullinia weinmanniaefolia, cujos numerosos frutos intensamente róseo-avermelhados lembram os do conhecido guaraná (Paullinia cupana).

Lá estava Neomitranthes obscura, uma bela planta carregada de graciosos frutos de mais ou menos 1,5 cm, arredondados e multicoloridos (variam do vermelho-intenso ao quase negro, conforme o estágio de maturação). São coroados no ápice por um pequeno vestígio de uma estrutura floral denominada calíptra (ver a foto que ilustra este texto). Possuem casca fina, sabor bastante doce quando maduros, mas com alguma presença de taninos, o que pode desagradar paladares mais sensíveis. Os pássaros e as crianças agradecem e fazem sua festa particular.

Trata-se de um mero arbusto ou arvoreta, cuja altura varia entre 1 e 3 m. Seu tronco é áspero, marrom-acinzentado e descamante em placas. A copa é densa, de formato arredondado a esparramado, com folhagem verde-clara. As folhas, muito espessas e lisas, logo chamam a atenção do observador, tal a intensidade do brilho da face superior. O formato destas é ovado ou elíptico, de extremidade muito pontiaguda, com a nervura central de tonalidade amarelo-clara, contrastando intensamente com o verde das folhas.

São bastante fáceis de cultivar, e devem ser plantadas a pleno sol, em qualquer tipo de terreno bem drenado. Beneficiam-se de uma adubação equilibrada, crescendo mais rapidamente e tornando-se mais viçosas.

Pelo pequeno porte e folhas suculentas, prestam-se muito bem ao plantio em vasos ou jardins no entorno de piscinas e coberturas de apartamentos. São plantas muito resistentes, bonitas e que certamente merecem maior destaque no paisagismo brasileiro.

Forte abraço!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Frutíferas em vasos (3) - as fabulosas mirtáceas

Entre as mais espetaculares frutíferas indicadas para vasos estão as mirtáceas. São verdadeiras dádivas da Natureza, sonho de qualquer apreciador de frutas silvestres, principalmente as nativas de nossa pátria.

Excluindo as originárias do Cerrado e o gênero Psidium (araçás e goiabas), são todas plantas que adoram umidade. Um conhecido nosso, em alusão aos termos anglófonos alcoholic (alcoólatra) e workaholic (viciado em trabalho), criou o neologismo wateraholic (viciadas em água) para designá-las. Portanto, meus amigos, mantenham o substrato de suas mirtáceas com um bom teor de umidade, mas sem encharcamento (o que elas definitivamente não gostam).

A seguir, enumero alguns dos melhores vegetais desta família para cultivo em recipientes de 30 a 50 litros:

- araçás: incluem basicamente todas as espécies do gênero Psidium (menos a goiaba). Indico o aracá-pêra (Psidium acutangulum) que já foi tema de três posts neste blog, o araçá-jamelão (Psidium sp., veja-o em nosso site www.e-jardim.com), o popular araçá-morango (Psidium cattleianum) e o araçá-ovelha (Psidium oligospermum), arvoreta nativa da Região Nordeste, e que produz frutos amarelos e muito doces. Ótimo também é o Psidium oblongatum, um quase desconhecido araçazeiro da Mata Atlântica que produz frutos enormes, semelhantes ao araçá-pêra.

- cabeluda (Myrciaria glazioviana): arbusto muito decorativo, produtor de frutos amarelos e pilosos, assemelhados a uma jabuticaba. O sabor é muito doce e agradável. Frutifica em pouco tempo após o plantio. No E-jardim produzimos mudas de uma variedade de frutos grandes (3,0 cm), conhecida como “cabeludão”.

- dentre as mais de 20 formas ou espécies de jabuticabeiras, recomendo quatro como ideais para vasos: a branca (Myrciaria aureana), a precoce ou híbrida (M. x cauliflora), a capirinha (forma arbustiva de M. jaboticaba) e a anã-do-cerrado (Myrciaria ou Plinia nana). Em nosso site apresentamos fotos e informações sobre o quarteto.

- eugênias nativas do Cerrado: a pêra-do-campo (E. klotzschiana), a pitanga-do-cerrado (E. pitanga), a cerrejeira-de-folhas-finíssimas (E. angustissima) são ótimas para vasos, desde que o substrato seja muito bem drenado, e se evite irrigá-las durante os meses mais frios. A cagaita (E. dysenterica) é uma árvore maior, e deve ser acondicionada em recipientes a partir de 60 litros.

- eugênias: um grupo bastante diverso, que já foi objeto de post anterior. São tantas as indicadas, que fica difícil não esquecer de alguma. Tentemos: araçá-boi ou rainha-das-eugênias (Eugenia stipitata), pitanga (E. uniflora), pitanga-negra-selvagem (E. sulcata), grumixama-anã (E. itaguahiensis), pitomba-da-baía (E. luschnathiana) [apresentada na foto que ilustra este post], pitangatuba (E. neonitida) [na minha opinião a melhor para o entorno de piscinas], uvaia (E. pyriformis), princesinha-de-copacabana (E. copacabanensis), cambucá-preto (E. macrosperma), pitanguinha-de-mattos (E. mattosii), cereja-do-cerrado (E. punicifolia), cereja-da-austrália (E. reinwardtiana), cereja-da-várzea (forma arbustiva de E. involucrata), etc.

- feijoa (Acca sellowiana): pequena árvore muito ornamental, seja pelas folhas com textura de cartolina (cartáceas), prateadas no verso, seja pelas lindas flores (comestíveis e bem doces!) de pétalas brancas e estames carmesins. Os frutos parecem uma goiaba, só que de sabor infinitamente superior, muito mais suculento e com fortes aromas de abacaxi. Produzimos mudas da cultivar “Helena”, de grandes dimensões (240 g) e de excepcional sabor. Desenvolve-se melhor em climas mais frios.

- goiaba (Psidium guajava): recomendamos a goiaba-roxa (veja detalhes em nosso site).

- jambo-branco (Syzygium aqueum): contrariamente ao jambo-vermelho (Syzygium malaccense), possui pequeno porte, e por esta razão o indicamos.

Forte abraço e bom cultivo!

sábado, 21 de junho de 2008

Frutíferas em vasos (2) - as mais indicadas

No texto anterior, prometi discutir as árvores frutíferas mais adaptáveis para o cultivo em vasos.

Apresento a seguir uma listinha comentada:

- acerola (Malpighia emarginata): muito conhecida em todo o país, apresenta crescimento rápido e produção precoce. Ótima resistência a períodos de seca, o que pode ocorrer por esquecimento. Destacamos as cultivares “Manoa Sweet” (frutos doces), “Cabocla” (fruto grande e em formato de maçã) e “Amarela” (frutos amarelos, cor bastante rara para uma acerola). Não aconselho plantar sementes, pois podem ocorrer variações indesejáveis, além de demorar muito a produzir.

- bacuripari-anão (Garcinia brasiliensis): arvoreta que produz frutos redondos, amarelo-alaranjados (2,5-3 cm) com agradável sabor agridoce, muito adaptável a diversos tipos de clima (veja os frutos na foto que ilustra este post). É a menor das Garcinia, gênero que engloba excelentes frutas como os celebrados mangostão (G. mangostana) e achachairu (G. laterifolia).

- cajá-manga-anão (Spondias dulcis var.): o conhecido cajá-manga é uma árvore de grande porte, mas existe uma variedade de dimensões reduzidas, que frutifica em vasos, a qual vem sendo multiplicada pelo E-jardim. Foi exibida na imagem que acompanhou o post passado.

- citros (Citrus spp. e Fortunella spp.): várias espécies possuem porte e frutos de tamanho pequeno, sendo portanto altamente recomendáveis. A lima-de-cafir (Citrus hystrix) é muito valorizada por suas folhas deliciosamente aromáticas que condimentam pratos da culinária tailandesa. O calamondim (Citrus mitis) é muito decorativo por produzir lindas laranjinhas de 4,5 cm, usadas no preparo de vários doces e geléias. Igualmente ornamentais são os kumquats ou kinkans (Fortunella spp.), excelentes para consumo ao natural ou sob a forma de compotas.

- fruta-do-milagre (Synsepalum dulcificum): baga de pequenas dimensões, vermelha e dotada do poder de bloquear as papilas gustativas receptoras do sabor ácido. Durante cerca de uma hora, todos os sabores ácidos ingeridos em seguida tornam-se “milagrosamente” doces.

- groselha-híbrida (Dovyalis abyssinica x D. hebecarpa): arvoreta muito adaptável e resistente a extremos de temperatura, de produção precoce. Seus frutos (2,5 cm de diâmetro) são aveludados e acidulados, ótimos para o preparo de sucos e geléias.

- mirtilo-tropical ou azaléa-de-cingapura (Melastoma malabathricum): arbusto do Sudeste Asiático e parente de nossas quaresmeiras (Tibouchina spp.). Produz frutinhos semelhantes no aspecto e sabor aos afamados blue berries.

- murici-da-amazônia (Byrsonima crassifolia): um fruto agridoce, amarelo e muito aromático, cujo refresco ou picolé lembram o gosto do doce conhecido como queijadinha. A arvoreta é muito decorativa.

- palmeiras como o guriri (Allagoptera arenaria), o saboroso coco-chiclete (Syagrus vagans) cuja polpa se destaca facilmente do caraço e o famoso butiá-da-praia (Butia odorata) são ideais para vasos grandes, com iluminação solar direta.

- vampi (Clausena lansium): da mesma família (Rutaceae) que os citros, produz lindos cachos de frutos esféricos ou ovalados, de fina casca marrom, que se destaca facilmente de polpa translúcida, muito suculenta. Existem variedades agridoces ou sem acidez (como a laranja-lima).

Ficaram faltando as fabulosas mirtáceas. A relação é imensa (araçás, eugênias, goiabas, jabuticabas, etc.), por isso tratarei delas em um post exclusivo.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Frutíferas em vasos (1) - introdução

Diversas pessoas me perguntam se é viável manter espécies frutíferas em vasos. Respondo que não somente é possível, como também muito divertido e saboroso! De fato, a população brasileira se aglomera cada vez mais nas grandes cidades, mas nem por isso diminui a vontade de estar em contato com a Natureza. Pelo contrário, existe quase uma necessidade de trazer um pedacinho dela para dentro de casa. Nada mais lógico que cultivar plantas em espaços reduzidos, inclusive aquelas que produzem frutos comestíveis!

A lista é enorme, como se verá a seguir. As finalidades, as mais diversas. Ornamentar quintais, varandas e entornos de piscinas. Encher de cores e aromas nossas vidas. Atrair pequenos pássaros frugívoros, fazer a alegria da criançada e até dos marmanjos. Mas como fazê-lo de maneira adequada?

Há algumas regras gerais, que devem ser seguidas para todas frutíferas. Outras mais específicas dizem respeito a diferentes exigências de substrato, drenagem e iluminação. Vamos por partes.

Para plantas menores, que atingem um metro ou menos de altura, vasos de cerca de 30 litros são suficientes. Árvores médias, que atingem aproximadamente dois metros, adaptam-se bem a recipientes entre 40 e 50 litros. Este é o caso do cajá-manga-anão (Spondias dulcis) ilustrado logo acima. Para variedades maiores, como a lichieira (produzida por alporquia), eu recomendo vasilhames a partir de 60 litros.

De fundamental importância é um substrato com boa textura e bem adubado. Sugiro a fórmula apresentada em nosso site (www.e-jardim.com), no link “dicas para cultivo”. Além disso, o fundo do vaso deve conter uma pequena camada de pedra britada envolta em geotêxtil (existem várias marcas no mercado), para melhorar a drenagem. Frutíferas anãs nativas do Cerrado (pêra-do-campo, fruta-de-tatu, guabiroba-do-campo, mama-cadela, pitanga-do-cerrado, jabuticaba-anã, etc.) exigem um cuidado adicional: pouquíssimas regas no inverno, pois não toleram a combinação baixas temperaturas + umidade nas raízes.

Há que se cuidar da nutrição com bastante zelo, pois em espaço limitado os nutrientes esgotam-se com maior rapidez. Uma excelente opção é a aplicação de adubos de liberação controlada (como o Osmocote®), que vai desprendendo lentamente os nutrientes, dentro de seu prazo de validade (de três a nove meses). Fertilizantes de aplicação foliar também podem ser de grande utilidade. De uma maneira geral, plantas com deficiências nutricionais apresentam sintomas bem evidentes, como regiões amareladas nas folhas (para maiores detalhes, entre na Comunidade “Nutrição Mineral de Plantas” do Orkut [http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=13399366] e tire suas dúvidas). Por último, cubra a superfície do substrato com uma pequena camada de aparas de madeira (fáceis de serem obtidas em serrarias) ou casca de pinus, para conservar a umidade.

Outro cuidado fundamental é o controle de pragas e doenças como fungos, cochonilhas e insetos que atacam as folhas. Faça inspeções regulares para certificar-se de que tudo vai bem.

Devemos observar as necessidades individuais de luminosidade para cada frutífera. Mesmo as que necessitam de sol pleno, devem ser lentamente adaptadas a uma maior exposição solar a partir de seu plantio. Explico esta transição em nosso site, também no link “dicas para cultivo”. Internautas com dúvidas, podem nos consultar diretamente.

Finalmente, indico uma poda de raízes a cada quatro ou cinco anos, em média, obviamente variando de acordo com o vigor de crescimento. O controle da parte aérea também pode ser feito, para limitar a altura ou eliminar ramos indesejáveis.

No próximo post, discutirei uma lista com as melhores frutíferas para vasos.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Porque o cambucá desapareceu?

Encerrei o post anterior divagando sobre o desaparecimento do cambucá da cena carioca, além de suas qualidades gastronômicas.

Façamos uma viagem no tempo. Desde os passeios de Lady Maria Graham a cavalo pelas matas de Copacabana no início dos anos 1800 até o primeiro quarto do século XX. Por mais de uma centena de anos, nossa simpática mirtácea foi figurinha fácil nas terras fluminenses. Como nos informou Manuel Pio Corrêa, grande divulgador das plantas nativas, em seu famoso tratado (Pio Corrêa, M. 1926 Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. vol. I. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional. 747p.): “os frutos encerram abundante polpa adocicada e refrigerante, comestível crua e da qual faz-se doce e compotas; na época própria é um dos frutos mais comuns nos mercados do Rio de Janeiro”.

Ora, nos dias de hoje contam-se nos dedos os cariocas que possuem alguma intimidade com nossa escolhida. Mas perguntem a pessoas com mais de 70 anos, especialmente aquelas que se cansaram de chupar fruta no pé. Quase todas responderão com um saudoso sorriso nos lábios: “ah, os doces cambucás...”.

O cambucazeiro é uma árvore média, em geral de 3-4 metros quando cultivada. O formato da copa é muito parecido com o da jabuticabeira (sua parente próxima), com numerosas ramificações a partir do tronco. Suas folhas, contudo, são bem maiores e ligeiramente aveludadas na face inferior. O tronco, que descama com facilidade, pode ser esbranquiçado ou avermelhado, conforme a variedade.

Os frutos é que dão grande destaque a esta planta. Eles se parecem com enormes jabuticabas (medem cerca de 4-6 cm de diâmetro, mas algumas formas podem atingir mais de 7 cm) e, como as últimas, nascem agarradinhos no tronco e galhos mais finos. Iniciam a maturação com uma coloração amarelo-clara, atingindo o auge na cor amarelo-canário, aquela tonalidade da camisa da seleção brasileira de futebol. Quando isto ocorre, a espessura da casca (grossa a princípio) se reduz dramaticamente, tornando-se quase uma “pele” delgada envolvendo uma polpa alaranjada e muito perfumada, cuja consistência lembra a de um pêssego ou damasco. Neste ponto, o ideal é usar uma faca para cortar o cambucá em duas metades e comê-lo às colheradas. Há quem prefira tascar o dente na fruta, e chupá-la como uma jabuticaba. Não importa, o primeiro encontro é sempre uma experiência inesquecível.

Mas onde estão os cambucazeiros nativos? A imensa maioria foi derrubada, assim como foi a floresta que nos cercava. Os cultivados, que alegravam chácaras e quintais, deram lugar a prédios e outras “modernidades”. Para que se tenha uma idéia, basta dizer que durante a construção da rodovia Rio-Teresópolis, as turmas de trabalhadores abatiam centenários (e enormes) cambucazeiros apenas para mais facilmente colherem seus refrescantes frutos! E, assim, as gerações seguintes perderam a referência deste presente que a Mata Atlântica nos deu... Ainda nos dias de hoje, vejo grandes exemplares abandonados adoecendo ou sendo suprimidos em antigos sítios na baixada de Jacarepaguá e arredores, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Finalizo a coluna de hoje com uma receita que aprendi com o mestre Antonio Morschbacker, grande entusiasta e autor de um primoroso artigo sobre a fruta (leiam-no em: http://paginas.terra.com.br/educacao/FrutasNativas/Cambuca.htm).

Compota de cambucá

- 2 litros de cambucás “de vez” (não usar frutos muito maduros porque estes se desfazem durante o cozimento)
- 2 litros de água
- 1 kg de açúcar (pode-se variar esta dosagem conforme se deseje maior ou menor toque de acidez)

Descasque os frutos, cortando-os em metades e retirando os caroços. Coloque-os em um recipiente com água e algumas gotinhas de limão para que não oxidem. Enquanto isso, prepare uma calda em uma panela, com os 2 litros de água e o açúcar. Leve ao fogo até ferver, mexendo bem para que o açúcar se dissolva completamente. A seguir, adicione os frutos previamente preparados, cozinhando-os na calda até que fiquem macios. Colocar em vidros, esperar esfriar e levar à geladeira. Depois é só se deliciar com uma sobremesa que encantou os franceses.

Agradecimento: a Antonio Morschbacker, pela receita e pela bela foto que ilustra este post.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

D. Pedro I, a babá inglesa e o cambucá


Mas que relação podem ter os três personagens do título deste post? Será mais uma pegadinha no estilo “a tartaruga, o navio e a família”? Não, nada disso, como se verá a seguir!

Às vésperas da independência do Brasil, a inglesa Maria Dundas Graham já era uma escritora de sucesso, com cinco obras publicadas sobre suas experiências em terras estrangeiras, incluindo a Índia. Casada com o oficial da marinha britânica Thomas Graham, acompanhava o marido em uma viagem de navio em direção ao Chile. Antes que pudessem chegar ao continente, o comandante Graham foi acometido de uma trágica febre que o levou à morte. Maria, atordoada com a viuvez precoce, acabou vivendo entre os chilenos durante um ano.

Em 1823, decidiu voltar à sua amada Inglaterra, mas quis o destino que seu navio fizesse uma parada no Rio de Janeiro. Nesta oportunidade, foi apresentada ao jovem Imperador Pedro I e sua família. Ficou acertado que a escritora seria a preceptora da Princesa Maria da Glória, filha do monarca e da Imperatriz Leopoldina.

A babá inglesa permaneceu em nosso país até 1826, ensinando a futura Rainha de Portugal (D. Pedro abdicou ao trono lusitano em seu favor após a morte de D. João VI) e tornando-se íntima da Imperatriz, com quem dividia uma enorme paixão pelas Ciências Naturais.

Graham nos deixou um delicioso relato de suas experiências durante este período, com grande destaque para as coisas da Natureza (Graham, M. 1990 [tradução do original de 1824]. Diário de uma viagem ao Brasil. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. 423 p.). Sobre as frutas nativas da Mata Atlântica, anotou o seguinte: “(…) Jardim Botânico [do Rio de Janeiro], que parece estar em estado de conservação muito melhor do que quando o vi há dois anos. (…) Fiquei contente por ver muitas das plantas indígenas que haviam sido plantadas aqui: o cambucá, cujo fruto, tão grande como uma maçã russet, tem o gosto sub-ácido de groselha, com a qual sua polpa tem uma forte semelhança; a japatee-caba [jabuticaba], cujo fruto é um pouco inferior ao damasco (…)”. Aliás, a governanta dos filhos de D. Pedro I parece mesmo ter preferido o cambucá à jabuticaba, conforme escreveu acerca daquele fruto no dia 6 de agosto [de 1823]: “(…) juntei-me a um alegre grupo num passeio a cavalo a Copacabana, pequena fortaleza que defende uma das pequenas baías atrás da praia Vermelha e de onde se podem ver algumas das mais belas vistas daqui. As matas das vizinhanças são belíssimas e produzem grande quantidade de excelente fruta chamada cambucá (,,,)”.

Mas que frutos são esses, por muitos tidos como os mais saborosos da grandiosa Floresta Atlântica, tão comuns no Rio de Janeiro do início do século XX? Porque não são mais quase vistos hoje em dia? Será que são bons mesmo?

As respostas ficam para o próximo post, mas por enquanto o nobre cambucá acaba de ganhar dois novos súditos: o ativo observador de pássaros (e apaixonado por plantas) Haroldo Júnior e sua esposa, que tiveram o prazer de degustá-lo no E-jardim durante o último final-de-semana.

(fotos e texto informativo sobre o cambucá: http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=71)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O araçá-pêra (3)


Atendendo a um pedido da internauta Carminha, estou postando uma foto da árvore do araçá-pêra. O exemplar ilustrado tem cerca de seis anos de idade, mede aproximadamente 2,5 m de altura, e descende das sementes enviadas pela Profa. Martha Falcão. Adaptou-se perfeitamente ao clima da região sudeste, onde frutifica com fartura.

domingo, 1 de junho de 2008

O araçá-pêra (2)


Após ter recebido as preciosas sementes do araçá-pêra de Martha Falcão, plantei-as cuidadosamente. A germinação foi relativamente rápida, e as mudas desenvolveram-se bem em solo bem adubado e regado periodicamente. Em cerca de um ano plantei duas mudas no campo, que iniciaram a frutificação precocemente, aos três ou quatro anos de idade.

Psidium acutangulum é uma espécie muito difundida em toda a Bacia Amazônica, cultivada em pomares domésticos, ou mesmo na forma silvestre. Também ocorre nas Guianas e na Bacia do Rio Orinoco, na Venezuela. É freqüentemente comercializada nas feiras livres das cidades amazônicas, onde faz muito sucesso.

A árvore é relativamente pequena (3-4 m em cultivo), de copa colunar, dotada de uma folhagem densa e muito bonita. Suas folhas medem de 10-14 cm de comprimento por 4-6 cm de largura, e apresentam as nervuras bastante impressas na face superior. As flores são abundantes, relativamente grandes (1,5- 2,0 cm), brancas e perfumadas.

A produtividade é bastante alta, ocorrendo durante quase todo o ano, mas com maior abundância nos meses mais chuvosos. Uma planta adulta chega a produzir mais de 50 kg de fruta por safra!

O fruto, na variedade selecionada por Falcão, atinge quase 10 cm de diâmetro, e chega a pesar mais de 250 gramas. A polpa é branco-amarelada, profundamente perfumada. Chega a apresentar quase 400 mg de vitamina C por 100 g de massa, entre outros nutrientes. O sabor é ácido, o que lhe confere grande vantagem sobre sua prima goiaba (Psidium guajava), pois é imune ao ataque da mosca-dos-frutos, que prefere espécies mais doces. Desta forma, torna-se ideal para o preparo de sucos, doces, geléias e iogurtes.

E que iogurte! O araçá-pêra assim preparado adquire uma textura cremosa, leve e muito aromática, agradando aos mais exigentes paladares. Preparei ontem, no café-da-manhã, uma receita que divido com os internautas:

- 1 araçá-pêra grande (200 g), suficientemente maduro (macio ao toque)
- 1 copo de iogurte natural
- 1 copo de leite
- açúcar ou adoçante a gosto

Descasque o araçá, corte-o em pedaços, e bata todos os ingredientes no
liquidificador. Em seguida coe em uma peneira, e sirva em taças ou copos. Huuummm....

P.S. Vejam mais fotos e muita informação sobre o araçá-pêra em nosso site: http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=20